Onde eu posso mesclar a realidade com a criatividade.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O último - Tati Bernardi

"Eu me descubro ainda mais feliz a cada pedaço seu e de tudo o que é seu. Eu amo tanto o seu banheiro com as combinações em verde e a chuva fina do chuveiro, que chorei essa manhã enquanto você tomava taffman-e e ouvia música eletrônica.
Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora.
E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.
Quando a gente foi ver o pôr-do-sol na Praça pôr-do-sol, eu, você e a Lolita, a minha cachorrinha mala, e a gente ficou abraçado, e a gente se achou brega demais, e a gente morreu de rir, eu senti um daqueles segundos de eternidade que tanto assustam o nosso coração acostumado com a fugacidade segura dos sentimentos superficiais.
Eu olhei para você com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tão ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo.
E eu tive vontade de fazer ginástica, ler, ouvir todas as músicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mãe.
E aí eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pôs junto com ele. E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia.
Eu te engoli e você é tão grande pra mim que eu dedico cada segundo do meu dia em te digerir. E eu não tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque eu não quero você namorando uma magrela. E eu sonhei com você e acordei com você, e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e você me mandou dormir mais, e me abraçou.
Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo.
E eu tento, ainda refém de algumas células rodriguianas que vez ou outra me invadem, tentar achar defeito na gente, tentar estragar tudo com alguma sujeira.
Mas você me deu preguiça da velha tática de fuga, você me fez dormir um cd inteiro na rede e quando eu acordei o mundo inteiro estava azul.
Engraçado como eu não sei dizer o que eu quero fazer porque nada me parece mais divertido do que simplesmente estar fazendo. Ainda que a gente não esteja fazendo nada.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, só quero me esconder de tudo ao seu lado.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opções do meu caderninho, eu espremi a água escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja. Uma esponja rosa porque você me transformou numa menina cor-de-rosa.
Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mão.
Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final."

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ali no canto da parede ela respirava enquanto tentava achar um meio de fazer o coração parar de bater, ela já caíra tanto, aquele sofrimento continuava, mesmo com o passar das estações, mesmo com as novas músicas no volume máximo, ainda tinha aquela voz irritante em sua cabeça, lembrando-a todo o tempo de que ela não estava bem, que era tudo mentira. Um suspiro demorado. Calma, menina, calma, um dia passa, não é o que todos te dizem? Respira fundo, olha para cima e segura essa lágrima, você gastou tanto tempo desenhando em seu rosto um semblante menos abatido. Eu sei que essa não é você, eu sei que você queria que fosse diferente, calma, não fica assim, não se culpa pelo que eles te tornaram. Você não tem culpa. Você só é assim, só deixa que eles façam isso com você, porque você foi destruída tantas vezes que acha que não se importa mais, que é só jogo, que é só prazer, mas você sabe que não é assim, sabe que ai dentro ainda tem um coração mole e sonhador, ainda tem um coração que ama a qualquer um que te ofereça colo, mas mesmo assim deixa que te marquem tanto, que se aproximem mesmo quando não haverá amanhã, não pra eles, mas pra você sempre há a espera pelo amanhã, não é, minha criança? Tá vendo essas marcas no teu corpo? Não, a culpa não foi tua, pequena. Respira, não deixa o corpo esmorecer, relaxa, Ele vai te perdoar. Nós te conhecemos, Ele, eu, teu coração, Nós sabemos que você é boa, você é sim uma menina boa, não, não importa o que fez no ultimo domingo, o que importa é o que tem ai dentro. Não chora, essa dor, esse vazio, essa angustia um dia deixaram você em paz e então você há de sorrir. Lembra de como você era mais leve antes? E teu sorriso era tão brilhante. Para, menina, para por favor. Não quero ter que te ver assim, te ver  desmoronando aos poucos, cada pedaço de você caindo, jorrando pelos teus olhos, escorrendo pelo teu braço... Eu já não sei o que te dizer, só espero que fique bem, só espero que não se destrua aos poucos, eu estou aqui, eu sempre estarei, eu sinto tudo por você, eu te acompanho desde o começo, desde de 2007, sou eu que sinto tudo isso junto com você, para de acumular tantas dores, medos e angustias nessa tua cabeçinha, um dia ela não agüenta, um dia ela se revolta com todo esse lixo e ferida que você larga nela, um dia ela te manda tudo de volta de uma vez, nós sabemos que você não aguentara, né? Então, minha menina, sai desse salto, tira essas roupas que não são você, tira esse rosto que não é teu, se olha, olha pra dentro, eu sei que te assusta, sei que tem medo de cair tão profundamente, nos teus pequenos olhos, que não consiga voltar sã e salva daí de dentro, mas a gente precisa superar, precisamos enfrentar tudo isso, eu estou aqui e eu sentirei tudo por você, eu aliviarei tua dor, sentindo tanta dor que causará anestesia própria. Respira, menina, respira por favor, não desiste de você, não desiste de viver, não desiste do teu coração puro, não desiste de mim, eu sei que eu erro deixando que você sinta tudo isso, espalhando toda dor por todas as partes do teu corpo, mas desculpa, as vezes é demais para que eu consiga bloquear ou aguentar sozinha.

                                                                                                          Your mind

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O tempo todo muda, muda todo tempo-o

E eis que surge então uma vontade de voltar, voltar aqui, voltar a postar, voltar a contar.
Novos textos, novas sensações, novas emoções, paixões... tantas coisas vindo a tona que nem tempo para retomar o fôlego tenho, é a realidade mudou, mas a essência acho pouco provável que tenha um mudança perceptível, continuo a mesma menininha assustada diante da imensidão que sou quando sinto, eu sinto inteiramente o que digo ao dizer que sinto, ainda sou perseguida pela distancia, essa distancia maldita que não quer distancia de mim e sempre me persegue e volta, mesmo depois de todos os acordos que fiz com meu coração para evitar caminhos que levassem a querer pessoas e coisas distantes do meu alcance diario, ainda sinto medo de ficar sozinha, ainda não sei dizer adeus, ainda sou confusa, hiperativa, abobalhada por palavras, sonhadora, indecisa, incerta, fantasiosa, sempre faço de curtos contos intensas histórias sem fim de amor. Talvez seja isso, talvez acima de tudo eu seja amor. Amar é dom, é uma dor, amar é só o que eu faço enquanto respiro, sou amor de corpo inteiro, amor de dentro pra fora, amor que reconheço, como diria JotaQuest. Talvez eu seja assim, eternas reticencias, eterno não-dito, eternas palavras que saltitam o tempo inteiro, talvez eu só seja, mas o que importa é que eu sou, sou cores, sou amor, eu sou e isso me basta, ser-me como é agrada-me.
E se eu pedir para ficar, vem e toca delicadamente minha mão e te apresenta?